Fontes próximas do líder da empresa russa de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, relatam que este vai reduzir as operações militares na Ucrânia e apostar no aprofundamento da presença em África, de acordo com a agência de informação financeira Bloomberg.
Citando fontes próximas de Prigozhin conhecedoras da intenção do líder do grupo paramilitar, a Bloomberg escreve que o líder da Wagner é visto em Moscovo como uma ameaça cada vez maior pelas autoridades de segurança e políticas, principalmente desde que foi impedido de recrutar mais mercenários entre os presos na Rússia, a sua principal fonte de angariação de militares.
O último episódio na desconfiança sobre a mais-valia desta empresa privada de segurança (mercenários) foi a incapacidade de avançar de forma decidida sobre a cidade ucraniana de Bakhmut.
“Com os combatentes a terem muitas dificuldade em avançar mais do que uma dúzia de quilómetros em direcção a Bakhmut apesar de meses de combate, os principais líderes militares russos conseguiram criar dúvidas em Putin sobre as capacidades militares da Wagner, argumentando que os resultados obtidos anteriormente resultavam da utilização de muitos presos tornados militares que eram enviados para a morte certa”, escreve a Bloomberg.
“Prigozhin está a chatear toda a gente, e a sua única protecção é a relação pessoal que tem com Putin, que ainda o considera útil de alguma forma”, disse a consultora política Tatiana Stanovaya, fundadora da R. Politik.
Apesar de não haver ainda um movimento concreto de tropas paramilitares da Wagner na África subsaariana, as fontes ouvidas pela Bloomberg consideram que a atenção de Prigozhin vai estar mais concentrada no continente, principalmente com a situação na Ucrânia a tornar-se mais difícil para as suas tropas.
Num anúncio público divulgado na segunda-feira, a Wagner abria vagas para mercenários para seis meses na Ucrânia e nove a 14 meses em África, onde a Wagner está presente na Líbia, Sudão, Mali e República Centro-Africana (além de estar também na Síria), havendo relatos não confirmados da presença também no Burkina Faso e em Moçambique.
A Bloomberg escreve ainda que, de acordo com relatórios dos serviços de inteligência italianos, o aumento da presença do grupo no Norte de África e na África Ocidental pode fazer aumentar o fluxo de migrantes para a Europa.
Nas palavras do Presidente da França, Emmanuel Macron, ditas em África em Fevereiro, a Wagner é “o seguro de vida dos regimes falhados” e é “um grupo de mercenários criminosos”.
O grupo é acusado de inúmeras violações dos direitos humanos por várias organizações internacionais, incluindo as Nações Unidas e a União Europeia.
DITADORES, AMIGOS PARA… SEMPRE!
Em 2019, a Rússia garantia que queria reforçar a cooperação com Angola, actualmente baseada sobretudo no sector diamantífero, nos domínios do turismo, extracção de recursos minerais, indústria, formação de quadros e agricultura. Sobra ainda alguma coisa para os velhos camaradas do MPLA explorarem?
Na altura, segundo o embaixador da Rússia em Angola, Vladimir Tararov, que anunciava a visita a Angola de uma delegação de 18 empresários russos, da mesma a abordagem com os parceiros angolanos – entidades e empresários nacionais – áreas para o desenvolvimento de negócios que iriam “ajudar a erguer a economia e a indústria”. Disso não tenhamos dúvidas. Eles vão entrar com o “know how” (saber) e nós com as riquezas. Depois? Bem. Depois nós ficamos com o “know how” e eles com as riquezas. Simples. Simples para quem não tem, como acontece com os dirigentes do MPLA, o cérebro nos intestinos.
“O Presidente João Lourenço disse que isso seria muito útil para as nossas relações bilaterais, temos que virar a cooperação para o domínio económico, e o que é mais importante, o agro-industrial”, frisou Vladimir Tararov.
Segundo o diplomata russo, no encontro com João Lourenço (o general Presidente formado e formatado na Rússia) foram também abordadas questões saídas do fórum económico na cimeira de Sochi, tendo igualmente agradecido em nome do seu governo a participação do Presidente angolano naquele evento.
O embaixador russo em Angola frisou que a cooperação passará a ser desenvolvida nos domínios turístico, humanitário, formação de quadros, extracção de diamantes, desenvolvimento industrial e cultura.
As relações bilaterais datam de 1976, ano em que foi assinado o Tratado de Amizade e Cooperação entre os dois países, em Moscovo, na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Já em Luanda, as partes assinaram, em 2004, um acordo para o relançamento da cooperação nos domínios económico e técnico-científico.
Velhos “amigos” das riquezas africanas
O regresso da presença russa a África está hoje claramente marcado pelo investimento, ou seja, venda de armas e envio de “conselheiros” ou mercenários, com Moscovo a competir com a Europa e a China para o papel de principal parceiro do continente africano.
De acordo com um artigo da agência France-Presse, o destaque da crescente presença da Rússia em África surgiu no dia 30 de Julho de 2018, com o assassinato de três jornalistas russos na República Centro-Africana, que investigavam a presença do grupo militar (mercenários) Wagner no país.
Segundo o artigo, de Janeiro a Agosto de 2018, a Rússia terá enviado cinco oficiais militares e 170 instrutores civis – que alguns especialistas acreditam ser mercenários do grupo Wagner -, entregado armas ao exército nacional após uma isenção ao embargo da Organização das Nações Unidas (ONU) e assegurado a segurança do Presidente centro-africano, Faustin-Archange Touadéra, cujo conselheiro de segurança era (claro!) de nacionalidade russa.
A entrega de armas aos Camarões para a luta contra o grupo ‘jihadista’ Boko Haram, as parcerias militares com a República Democrática do Congo (RD Congo), Burkina Faso, Uganda e Angola, as cooperações num programa de energia nuclear civil com o Sudão, na indústria mineira no Zimbabué ou no alumínio da Guiné, representam algumas das iniciativas de Moscovo nos últimos três anos.
A Rússia tem também diversificado as suas parcerias africanas, expandindo as relações para além das nações com quem tem ligações históricas – como Argélia, Marrocos, Egipto e África do Sul – e procurou aliados na África subsaariana, onde estava “virtualmente ausente”, lê-se no artigo.
“África continua a ser uma das últimas prioridades na política externa da Rússia, mas a sua importância tem vindo a crescer”, de acordo com o historiador Dmitry Bondarenko, membro da Academia Russa de Ciências.
A URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) manteve, durante décadas, uma presença activa no continente. Agora, com outro nome, mantêm-se os objectivos: sacar o máximo e perder o mínimo. Um bom negócio, desde logo porque a carne para canhão é negra e as riquezas africanas são inesgotáveis.
A medida representava uma das armas na guerra ideológica contra o Ocidente, apoiando os movimentos de libertação africanos e, após a descolonização, enviava milhares de conselheiros militares, combatentes e material bélico para esses territórios.
Com a desintegração da URSS, as dificuldades económicas e as lutas internas na Rússia durante os anos 1990, Moscovo abandonou as suas posições em África.
Face à falta de fundos, aumentou o número de embaixadas e consulados a encerrar, diminuíram o número de programas e as relações atenuaram.
Foi apenas no novo milénio que o Kremlin começou a reavivar as suas antigas redes e regressou gradualmente a África, procurando novos parceiros à medida que a ideologia era substituída por contratos e pela venda de armas. E, também, à medida em que os “velhos” comunistas (caso do MPLA) se rendiam às benesses do capitalismo, selvagem ou não.
Em 2006, o Presidente russo, Vladimir Putin, viajou até à Argélia, África do Sul e Marrocos para assinar contratos, algo que o seu sucessor, Dmitri Medvedev, estendeu a outros países – Egipto, Angola, Namíbia e Nigéria -, três anos mais tarde.
Em Março de 2018, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, visitou cinco países africanos, enquanto representantes de várias nações do continente estiveram presentes no Fórum Económico de São Petersburgo, em Maio.
Se a Rússia encontrar interesse económico, permite aos países africanos “ter mais um parceiro, o que significa outro canal de investimentos e desenvolvimento, e o apoio de um país poderoso no cenário internacional”, declarou o analista russo e antigo embaixador em vários países africanos, Evgeni Korendiassov, citado pela AFP.
A Rússia, que não tem um passado colonial em África, espera apresentar-se como uma alternativa para os países africanos face aos europeus, norte-americanos e chineses.
A AFP considera a República Centro-Africana um “excelente exemplo”, dado que este país nunca esteve perto da URSS durante a Guerra Fria e voltou-se para a Rússia para fortalecer as suas forças militares, com dificuldades em enfrentar os grupos armados.
“Desde 2014 e da anexação da Crimeia, a Rússia tem confrontado o Ocidente e declarado abertamente a sua vontade de se tornar novamente uma potência mundial. Não pode, portanto, ignorar uma região”, apontou Bondarenko. Segundo ele, Moscovo está interessado em África não por razões económicas, mas para “um avanço político”.
“Anteriormente, os países com quem o Ocidente não queria cooperar, como o Sudão ou o Zimbabué, só podiam recorrer à China. A Rússia passou a ser uma alternativa tangível”, acentuou, antes de concluir que “este não era o caso antes, e isso pode mudar significativamente a ordem geopolítica do continente”.
Sipaios “made in” Moscovo
Um diploma de mérito e uma medalha de ouro, que simboliza a paz e o desenvolvimento mundial, foram atribuídos à organização juvenil do MPLA (JMPLA), pelo Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin.
Com o diploma e a medalha, o Chefe de Estado russo homenageou esta organização partidária pela sua “excelente participação no XIX Festival Mundial da Juventude e Estudantes, realizado na cidade russa de Sóchi, de 14 a 22 de Outubro de 2017”.
Em 28 de Novembro de 2018, o embaixador russo em Angola, Vladimir Tararov, entregou ao então primeiro secretário nacional da JMPLA, Sérgio Luther Rescova Joaquim (já falecido), as respectivas distinções, tendo destacado os laços de amizade e de cooperação existentes entre a Rússia e Angola. Certamente que este recado a João Lourenço não era necessário, mas, pelo sim e pelo não…
Num texto que aqui publicamos no dia 2 de Novembro de 2014, afirmámos ser certo que, com tantos panegíricos de culto ao “querido líder”, o “escolhido de Deus” não iria ser salvo pelas críticas mas assassinado pelos elogios, acrescentando que, tal como Mubarak, Saddam, Kadafi ou Compaoré, Eduardo dos Santos iria ver um dia todos estes bajuladores darem o dito por não dito. Assim aconteceu. E com João Lourenço não vai ser diferente.